quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Na trilha dos meus mestres...

Severus Snape é um bom exemplo de que tipo de professor nãos ser.
    Vai chegando o fim do ano, e com ele o fim da minha tão sofrida licenciatura. Faculdade é sempre um período árduo, mas sempre vai valer a pena no final, mesmo se for uma licenciatura.
Quem faz ou fez alguma licenciatura já passou pelo mesmo que eu algumas boas vezes. As pessoas nos veem como malucos masoquistas que decidiram se castigar no décimo terceiro ciclo do inferno. Minha mãe mesmo, achou um absurdo eu seguir o caminho das Letras.

    Mas isso é assunto para outro texto! Hoje eu quero falar sobre como me vejo profissionalmente. Por estágios e alguns bicos, tive a experiência de estar em sala de aula como professor, e me ver atuando como tal me fez pensar sobre que tipo de professor e quero ser e que tipo de professor eu NÃO quero ser.

    É muito engraçado como nós que decidimos seguir a carreira do magistrado o fazemos por causa de algum bom professor que tivemos na vida. Quem me segue nas redes sociais há algum tempo sabe que escolhi esse ofício devido a três grandes mestres que tive no ensino médio: Prof. Leandro A. Rodrigues, Prof. Alessandro Garcia e Prof.ª Lara Sayão. É claro que minha educação foi repleta de bons professores, sobretudo no ensino médio (Levi, Flaviane, Verônica, Diva), mas esses me marcaram muito, não por serem melhor que os outros (recuso-me a fazer um pódio), mas porque me marcaram mais no modo de ser professor. Desconfio que o professor que pretendo ser seja uma mistura desses três.

    Em primeiro lugar, quero ser um professor que domina sua matéria. Queria ter a habilidade do Leandro (professor de português) para comentar qualquer livro literário da matéria com a propriedade de alguém que leu e releu.

    Mas só saber muito não é o bastante, eu gostaria de ser capaz de transferir esse conhecimento facilmente. Uma boa forma de fazer isso é falando com gosto daquilo que se ensina. O Leandro falava de Literatura com tanto amor que eu pensei com meus botões “Uau, isso deve ser bom mesmo”, e deu no que deu, foi o curso que escolhi. A forma da Lara falar de filosofia era único, ela não queria ensinar uma matéria fossilizada, ela nos ensinou antes a filosofar. O prazer que ela sentia em argumentar era tamanho que nos sentíamos transportados de volta a Grécia Antiga, e procurávamos pelo arché. Ela tinha um controle tão grande da situação que, quando a sala se agitava, sem a mínima necessidade de se exaltar, ela apenas estalava o dedo três vezes, e todos ficavam quietos para ver o que ela ia falar. E por fim o Alessandro (professor de sociologia), esse adorava uma boa discussão, ele levantava debates e se divertia em ver como todos ficavam tentados a opinar. Nunca vi ninguém se sentir tão a vontade numa sala de aula, eu diria até que aquele espaço foi criado especialmente para ele.

    E é claro, quero ser amigo dos meus alunos. Quero ser aquele professor que o aluno fica contente de encontrar na rua e vem cumprimentar. Quero ser aquele professor que os alunos vem conversar sobre o que estão lendo, o que querem fazer no futuro e o que gostam. E por fim, quero fazer a diferença na vida dos meus alunos, como esses fizeram.

    Agora, e o tipo de professor que eu NÃO pretendo ser? Acho que a receita se dá da mesma forma. Eu penso em maus professores que tive (não os nomearei) e penso comigo “será que tal professor fara isso?”. Se a resposta for positiva, eu sigo o caminho contrário. O modo de agir desses professores se tornou um campo minado onde não me atrevo a pisar.

    Dessa forma, eu evito ao máximo ser um professor que desconhece o conteúdo que ensina. E se o sei bem, fico preocupado se estou transmitindo aquilo de uma forma compreensível para todos. Não quero ser como um professor que tive que fez duas faculdades ao mesmo tempo (o cara era um gênio), mas não conseguia explicar nada do conteúdo, e se confundia nas próprias explicações e nos exemplos que dava.
Um professor apático que finge que ensina e depois “passa todo mundo” também não dá.

    Um professor punitivo e tirano também está fora dos eixos para mim. Não quero ficar perseguindo aluno e castigando turmas, pois como aluno passei por isso e sei que é uma aflição imensa. Não quero ser visto como “Severus Snape” por nenhum aluno! Para fugir disso, tento ser o máximo brincalhão e amigo o possível. Isso não é difícil, dado meu gênio.

    Se tem outro tipo de professor que eu não suportaria ser é o manipulador. Aquele que passou a faculdade decorando as asneiras marxistas para enfiar na goela das crianças depois. Esse tipo transforma a aula em militância. O saber perde toda a importância e apenas a revolução passa ser vista, essa geração então se torna mais uma geração de imbecis pregadores... e o rebanho vai só crescendo.

    Eu jamais submeteria meus alunos a uma lavagem cerebral. Jamais estupraria a mente das crianças. Jamais manipularia o idealismo da juventude. Estou ali para preparar o aluno para que ele, como pessoa pensante, formado e preparado, possa abraçar a causa que desejar. De minha parte não receberá nenhuma inclinação pronta, pois como um ser social ele vai fazer o que achar melhor depois na sua liberdade.

    E como a docência é uma profissão, espero ser um bom profissional: ético, responsável e que aprecia o que faz. Espero então não ter desavença com nenhum colega de trabalho, seja ele professor ou técnico administrativo. Pretendo ser pontual e não faltar ao trabalho, a não ser por motivo grave. Chega das crianças voltarem mais cedo para casa porque não tem professor.

    Tudo isso se resume então, como já dito, aos modelos de professores que tive. Quero imitar as virtudes dos bons professores que tive, e lutar para não cair nos mesmos erros de professores que não me agradavam. Talvez o resultado seja algo que não agrade a todos, mas não importa. É impossível agradar a todos. Mas eu poderei deitar minha cabeça no travesseiro e dormir tranquilamente, pois fiz o meu melhor naquilo que eu julgo ser o melhor.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

A Voz de Saruman

Christopher Lee deu vida ao mago Saruman em seis longa-metragens.
   Sir Christopher Frank Carandini Lee faleceu nesse dia 7 de junho de 2015, aos 93 anos no hospital Chelsea e Westminster, em Londres, onde estava internado por problemas de insuficiência cardíaca e respiratória.
   Quando celebridades morrem, é costume das pessoas se compadecerem e se tornarem fãs do trabalho daqueles que nunca conheceram em vida. Com Christopher Lee não foi diferente, teve até entendidos que em lágrimas comentaram "Sua interpretação de Gandalf é ótima". Tem quem tenha achado a confusão dos fãs recentes engraçada, eu achei vergonhosa (para não dizer deprimente).
   A morte de Christopher Lee me deixou realmente chateado. Não digo isso por fazer parte do grupo que acabei de criticar, eu realmente achava o trabalho de Lee excepcional.

   Christopher Lee era um excelente ator. Daqueles que vêm para Hollywood direto dos teatros shakespearianos do Reino Unido, cheios de amor pela Literatura. Além de ser ator, ele também era cantor e escritor, em outras palavras, um homem apaixonado pela arte e repleto de talento que veio para tornar o mundo um local mais bonito, tal como só os grandes artistas o fazem.
   Como disse, o ator que dá vida a Saruman era um homem apaixonado por literatura. Ele teve a honra de conhecer o professor Tolkien pessoalmente. Lee disse que caiu de joelhos sem palavras quando viu o criador da Terra-Média pela primeira vez. Ele sempre falou de J. R. R. Tolkien com muita reverência.
   Com aquele tom gótico próprio dos entusiastas do período vitoriano, Lee trabalhou em grandes filmes de terror (chegou a encarnar o Conde Drácula mais de uma vez) e também se dedicou ao metal progressivo, o que lhe conferiu o título de "Metal Knight". Sua versão da minha música rock favorita (a saber "Ghost Rider in the Sky") arrepia minha espinha sempre que ouço (escute aqui).

   Em seus noventa e três anos de vida, Lee tem uma ampla carreira artística que tem início em 1940! O curioso é que por seu estilo, sempre fez vilões icônicos: Saruman, Drácula, Conde Dooku, deu voz ao Jaguadarte e, o mais assustador de todos, o dentista pai de Willy Wonka. Apesar disso, Christopher Lee era um homem muito bom, querido por todos que com ele trabalhava.
Paixão pelo seu trabalho e uma boa relação com seus colegas, esses são os segredos para a imensa carreira de Lee que até um ano atrás trabalhava nas gravações de "O Hobbit" e gravava um disco de Heavy Metal. Só alguém que amava seu trabalho como Christopher Lee continuaria trabalhando até os últimos dias de vida.

   Não foi por acaso que eu intitulei esse texto assim. Esse é o mesmo título dado ao capítulo X do livro III de O Senhor dos Anéis. Na obra de Tolkien, a voz de Saruman era algo fantástico, mágico e temível. E só a voz de Christopher Lee pode cumprir com essa descrição.
   Hoje, estou em luto. Porque o mundo perdeu um grande talento artístico, porque os sets de Hollywood e os palcos de Londres perderam um excelente ator e porque nós perdemos a voz mais bela que existiu. Sem essa voz, o silêncio do luto não é nada reconfortante.

   Mas seguimos em frente prometendo que nunca iremos esquecer do Sir Christopher Lee, o "Metal Knight", a voz de Saruman. E esperamos que os anjos se alegrem ao ouvir sua voz no Céu, como ele cantava em uma das suas incríveis interpretações musicais (ouça) dos poemas de Tolkien:
Ah! the wind and the whiteness and the black branches
of Winter upon Orod-na-Thön!
My voice went up and sang in the sky.
(Treebeard's Song)

terça-feira, 21 de abril de 2015

Demolidor - Netflix

O Demolidor não viu, mas talvez você irá ver alguns spoilers da série aqui.
   A série Marvel's Daredevil ou simplesmente Daredevil (eu prefiro chamar de Demolidor) estreou no dia dez de abril, e uma semana depois eu já tinha assistido seus treze episódios em maratona, como pede a tradição Netflix. Já resumo tudo dizendo que amei de paixão a adaptação que fizeram.
   Sou suspeito para falar, o Demolidor é o meu segundo super herói predileto, perdendo apenas para o Homem-Aranha, e os dois juntos formam minha dupla preferida de heróis. Acrescenta-se o Justiceiro e temos minha trindade favorita dos quadrinhos, que me desculpem Superman/Batman/Mulher-Maravilha e Capitão América/Homem de Ferro/Thor. Uma pena que pelo tom adulto da série, não teremos o Aranha fazendo uma participação, já que a Marvel insiste nessa ideia do Peter adolescente. Mas quem sabe teríamos Frank Castle em pelo menos um episódio?
   Voltando à série, gostaria de dar meus parabéns à Netflix mais uma vez. Depois de Marco Polo, Better call Saul e, especialmente, House of Cards, a Netflix confirmou que sabe fazer séries excelentes e chegou para ficar.

 

Abertura


   Tradando-se de uma série, a abertura diz muito a respeito do que será transmitido. Eu acho uma pena quando uma série tem uma abertura genérica, com cenas de alguns episódios, como algumas séries da Disney. Não, a abertura de uma série traz todo o espírito do que será transmitido.
   Existem aberturas que contam a história do personagem, como Arrow ou a narração da Amy Pond em Doctor Who; existem outras séries que trazem músicas temas inesquecíveis, como Um Maluco no Pedaço ou a contagem regressiva de Chaves; e existem aberturas que trazem uma pesada carga simbólica, como é o caso de House of Cards que comentarei em outro post.
   Parece ser um padrão da Netflix optar por esse último estilo, e na série Demolidor, vemos a construção da cidade com sangue, o que pode levar a três interpretações: 1). O sangue derramado pela cidade, tanto dos que se sacrificam por ela quanto dos que são sacrificados por ela; 2). A forma como o Matt vê o mundo; 3). A cidade é viva. Eu aposto mais na primeira.
   Outra coisa interessante é o que é modelado com esse sangue. Primeiro surge a deusa Cibele, símbolo da justiça, então mostram alguns prédios, uma caixa d'água, uma ponte e depois a cidade, depois uma igreja e um anjo chorando (alusão ao catolicismo do herói que iremos comentar adiante) e por fim o "demônio da Cozinha do Inferno", formando o nome do herói e da série.
   A música tema também é fantástica, pois combina tensão, aventura e melancolia. As notas graves dão um timbre triste, como uma Marcha Fúnebre, de Chopin; o ritmo acelerado ao fundo (como o da abertura do selo Marvel nos filmes) traz a ideia de aventura e a composição melódica em si é tensa. Não entendo tanto de música quanto eu gostaria, mas entendo de sentimentos, e essa música combina esses três sentimentos tal como o Demolidor.

Elenco


   Os atores foram muito bem escolhidos. Uma série requer um orçamento mais baixo do que os filmes e por isso não pode contratar figurões como Samuel Jackson ou Robert Downey Jr., mas muitas acabam contratando atores bem chinfrins. Não é o caso dessa série, pois ela montou um bom elenco.
   Eu já comprei a ideia da série quando vi que o inglês Charlie Cox interpretaria Matt Murdock, gostava desse ator desde Tristan Thorn no incrível Stardust: o mistério da estrela, mas passei a gostar dele mais ainda depois dele interpretar meu querido São Josemaría Escrivá de Balaguer em There Be Dragons. Ele tem uns trejeitos meio infantis (vulgo "cara de menino") que às vezes extrapolam ao ponto de me lembrar o Daniel Radcliffe, eterno Harry Potter, mas não vou julgar o talento dele pela cara de menino, seria como dizer que Matt Smith não pode ser o Doctor.
   Ouvi gente reclamando da Deborah Ann Woll como Karen Page, mas não concordo, talvez porque eu não gosto da Karen desde Demolidor: A Queda de Murdock e por isso não tenho tanto apreço pela personagem. Mas a Deborah é muito linda e atua bem e isso para mim é mais que o suficiente para interpretar Karen Page. Nada vai ser pior do que essa pseudo Enfermeira da Noite que fica nesse melodrama com o Matt, estou me referindo à Claire, que na verdade, deveria estar namorando o Luke Cage.
   Tirando o cabelinho ridículo (que odiei), Elden Henson faz um bom papel como Foggy Nelson, só podia ficar mais porquinho, se bem que o Matt já reclamou dele ter comido cebola e não tomar banho há dois dias, então isso mostra que os produtores sabem como é o Foggy. Outro fato bacana sobre ele é a amizade com Matt. Foggy e Nelson vivem um verdadeiro bromance, sendo a mais incrível dupla de "abacates".
   É impossível fazer qualquer adaptação de Demolidor sem haver a presença incrível de Ben Urich. O jornalista sempre esteve investigando o crime e trabalhando junto do Demolidor. A escolha do Vondie Curtis-Hall me chocou de início como o Idris Elba de Heimdall, mas a atuação dele é fantástica e a mudança étnica do repórter não fez a mínima diferença.
   E por último, devo falar da contraparte de Murdock, o Rei do Crime foi brilhantemente interpretado por Vincent D'Onofrio, que trabalhou muito bem o espírito do vilão, mas comento isso com mais detalhes depois.
E o Bob Gunton me fez gostar do Coruja, fala sério.

Caracterização


   Apenas para comentar alguns detalhes que não couberam no título anterior. Como o fato de Ben Urich trabalhar no Boletim. Achei uma pena não terem colocado o Ben Urich trabalhando no Clarim Diário, isso integraria o universo Marvel, mas sei que há um monte de burocracias e chatices envolvendo tudo. Além disso, seria necessário escolher um J. Jonah Jameson, e isso daria muito trabalho.
Porém, a ideia de que a imprensa está morrendo e que Urich pensa em ir para internet virar blogueiro (se bem que até blog está caído hoje em dia, a moda agora é vlog) é no mínimo interessante, como o Clarim Online, nas HQs atualmente.
   Como a história do Demolidor foi construída também foi bacana, eles mostraram apenas o básico e vão recorrer ao resto com flashbacks, como Arrow. Isso deixa a trama mais leve e faz até um certo mistério sobre a vida dele, como as duas vezes em que quase contaram sobre o paradeiro da mãe dele (ela é uma freira, sabia?), mas preferiram deixar para outra temporada. Por enquanto, focaram mais no seu pai, o Jack "Batalhador" Murdock.
   Se tratando da história do Demolidor, um capítulo em especial me fez exultar de alegrai ao ver que o personagem está tão fiel aos quadrinhos. Uma coisa (entre milhares) que o filme errou rude: Stick, o sensei de Matthew.
Um cara não pode simplesmente ganhar um sentido de radar e virar um ninja sem mais nem menos, ele precisa ser treinado para usar seus poderes ao seu favor. Stick está tão severo e sacana quanto eu costumava imaginar nos quadrinhos. Às vezes é difícil comprar a ideia de que um velho cego apareceu do nada e treinou um menino também cego para ser um ninja (sem piadinhas de "um cego guiando outro", certo?), mas os produtores não se importaram e trouxeram o velho para série. Realmente me empolgou muito vê-lo em live action.
   A construção do uniforme também foi legal, antes ele era só uma cara mascarado, que chegou a receber vários nomes: "mascarado", máscara negra", "homem de preto" (MIB?), "justiceiro" e outros. Mas a ideia de pedir ao Melvin Potter (vulgo Gladiador) para fazer seu uniforme e tirar a ideia do demônio de suas conversas com o padre foi uma sacada genial. Como seus bastões foram surgindo também foi legal, ele usava só os punhos, Stick lhe deu os bastões de madeira e ele acabou ajeitando um super bastão de metal (que sai faísca!) que encaixa e desencaixa, faltou só ele disparar cordas para ele se balançar por aí. Enfim, o uniforme não foi uma coisa jogada no nosso colo, eles trabalharam a ideia dele ao longo de toda série primeiro.
   Outra coisa interessante foi a censura +18. Isso deu espaço para um tom de violência que não caberia em outra mídia, o "Diabo-Atrevido" não é para criança. Uma pena que isso proíbe de que o Homem-Aranha faça um ponta. Droga, como queria vê-los juntos!
   Tudo isso contribuiu para que o Demolidor se tornasse na série o que ele é nos quadrinhos: o Batman da Marvel. Um exímio lutador com horror à armas que faz justiça na sua cidade natal sem matar, mas fazendo todos se borrarem de medo.

Vilões


   Fazer uma série, ao contrário de um filme, quer dizer que você vai trazer vários vilões. Pois uma série tem muito mais tempo de trabalhar a motivação dos vilões, ao contrário dos filmes, sobretudo os últimos, em que os vilões parecem não ter motivação alguma. Demolidor trabalhou bem isso, desde o primeiro episódio, vemos surgir do nada um homem cujo nome é proibido pronunciar: Wilson Fisk, o Rei do Crime.
   Os produtores dessa série com certeza leram Justiceiro MAX: Rei do Crime, pois trabalharam o vilão de forma semelhante. Fisk surge do nada, é conhecido por poucos e aos poucos vai ganhando espaço diante dos holofotes. O Rei do Crime (embora ele não seja chamado assim na série) reuni a máfia russa, japonesa e chinesa e derruba uma de cada vez, até que só reste ele no comando da Cozinha do Inferno. A corrupção que dá tanto poder a Fisk é bem demonstrada na série, e o grandão se mostra intocável (até o último episódio).
   Como Wilson Fisk foi trabalhado é algo interessante. Sua infância traumatizante que só termina de uma forma ainda mais traumatizante, após ele assassinar o próprio pai. Esse é um dos pontos que demonstram sua crueldade, ainda que seja de uma forma bem mais sútil do que em Justiceiro MAX: Rei do Crime. Wilson tem complexos, como o de encarar a parede branca, e isso motiva as ações do personagem. Sua amizade com Wesley (e depois a morte deste) e seu amor por Vanessa são boas formas de justificar sua brutalidade. Ele decapitou o chefe da máfia russa com a porta do carro só porque ele o envergonhou na frente de Vanessa. Esse é Wilson Fisk, um touro incontrolável diante de uma bandeira vermelha.
   Creio que mesmo com esse lado sentimental, o Rei do Crime está sendo bem retratado. Sua mãe no asilo foi uma boa sacada, e até Wesley foi uma ideia bacana, mas felizmente ele está morto e a mãe de Wilson não volta mais do asilo para onde foi. Wilson Fisk irá se tornar o monstro que é aos poucos. Sua forma de lutar também tem tudo a ver com o Fisk dos quadrinhos, a força bruta, as trombadas e a facilidade em levantar o oponente. Só faltou gritar "Não é banha, é músculo!".
   As vestes dele lembram bastante o original, mas não são como o terno branco dos quadrinhos. Porém foi uma escolha dos produtores, que já demonstraram isso quando Vanessa conta sobre um príncipe (príncipe... rei... sacaram?) que usava terno branco e lenço, ao que Wilson responde que aquilo era algo exagerado. A ideia do terno revestido também saiu dos quadrinhos.
   Embora Wilson Fisk seja o principal antagonista da série, outros vilões tem suas vezes. Alguns tem uma boa participação e outros só aparecem de relance. Esse último é o caso do Taurus, chefe da organização secreta chamada Zodíaco, cujo nome verdadeiro "Van Lunt" aparece na porta do escritório de Nelson e Murdock, por baixo do cartaz. Outros vilões que são referenciados são as indústrias Roxxon, da qual o nome aparece várias vezes, e o vilão Metalóide, cujo as pernas metálicas aparecem em um canto da oficina do Melvin Potter.
   Uma especulação que fiz foi entender que as cartas de baralho usadas por Ben Urich e a que aparece no kit de primeiro socorros de Jack Murdock faziam referência ao Mercenário, mas acho que exagerei, pois quero muito vê-lo na série.
O que ninguém pode negar é que a série está cheia de easter eggs, detalhes pequenos espalhados no fundo, como a Torre dos Vingadores que surge em um episódio. Mas o que eu queria mesmo era algo mais agressivo, como o Homem de Ferro passando voando rapidamente ou o Homem-Aranha balançando numa teia ao fundo. Isso iria ser divertido, além de ajudar na integração do universo. Não que isso não esteja sendo feito, pois a batalha de Nova York toda hora é comentada e até o Homem-Formiga já foi citado por Ben Urich numa conversa ao celular como "um maluco com chapéu de metal".
   Bom, como eu disse, existem outros vilões importantes além de Wilson Fisk, como a máfia russa (mais russa impossível) ou o Tentáculo, que embora não tenha seu nome dito, fica claro que se trata de um clã de ninjas vestidos de vermelho como o falecido Nabu.
   Coruja e Gladiador, embora não sejam propriamente vilões na série, ambos tomaram uns cacetes do Demolidor e são vilões nos quadrinhos. O primeiro é Leland Owlsley ("Owl-": Coruja), que equivale ao Pinguim do Batman. Na série ele não usou aquele cabelinho ridículo e nem comeu ratos, mas foi mais um contador do Rei do Crime, isso sem deixar de ser muito esperto. Wilson Fisk só foi pego por causa dele. A atuação do Gunton está fantástica, ele deu carisma ao vilão. Fiquei muito chateado com a morte dele. Já o segundo é Melvin Potter, o perturbado fabricante de uniformes que já vestiu uma fantasia azul e amarela (da cor de uma bandeira na oficina) para atacar Murdock com lâminas circulares. Durante a briga na oficina, ele chegou a arremessar uma dessas no Demolidor. Mais um easter egg!
   Para representar as mulheres entre os vilões, temos a sinistra Madame Gao. Qual é a da velha? Não lembro dela nos quadrinhos, e nem sei ao certo se ela existe neles. Na heroína que ela traficava, era carimbado o desenho da Serpente de Aço, símbolo de Kun Lun, cidade mística onde o Punho de Ferro aprendeu suas técnicas. Achei sinistro como ela derrubou o Demolidor com um só golpe. Agora, ela desapareceu, disse que ia para um lugar mais longe que a China, talvez seja Kun Lun. Não sei! O que sei é que ela me dá arrepios.

Catolicismo


   "(...) Além disso, ele aguenta uma dor tremenda sem reclamar". "A última parte é o catolicismo". Essa com certeza foi uma das partes mais hilárias da série.
   Sim, Matthew Michael "Matt" Murdock (porque todos sabemos que o Stan Lee adora uma aliteração) é católico apostólico romano. Como Noturno, dos X-Men, o catolicismo está na essência do personagem. É a noção de martírio que faz Matt se entregar pela Cozinha do Inferno. E a série explorou isso muito bem. Na primeira cena da série, assim como na primeira cena de Demolidor: Diabo da Guarda, vemos Matthew se confessando pelo que irá fazer. Eu brinquei que o Demolidor é o Batman da Marvel, mas Matt tem essa grande diferença do Cruzado Encapuzado: ele não sente prazer no que faz ou ao menos não sente prazer em saber que sente prazer. O senso moral do Demolidor, e não uma infância traumática, é o que faz lutar como juiz e júri. Essa mesma moral que o impede de assumir o terceiro cargo, o de carrasco.
   Como eu comentei num texto anterior, onde eu fazia uma resenha da revista Demolidor: fim dos dias, por mais que Matt tenha vontade, ele nunca irá matar o Rei do Crime (ou o Mercenário), pois o dia em que ele fizer isso, terá deixado de ser o que ele acredita ser. Ele terá perdido.
   Em suas conversas com seu padre (mais um parabéns por atuação), Matt conta que não acha certo o que faz, mas deve ser feito. Ele sofre com isso e se sente mau, isso que irá inspirá-lo a se vestir de demônio e sair por aí lutando. Um demônio que luta para salvar o Inferno (seu lar), essa é a maior ironia da história dos quadrinhos.


   Isso foi tudo que eu tinha para comentar sobre a série. Gostei mesmo do que foi feito e aguardo ansiosamente pela segunda temporada (que aliás já foi confirmada). Não sei que rumo a série irá tomar sem Ben Urich, mas espero que seja um rumo com a participação de outros heróis do universo Marvel, com o surgimento do Mercenário e com o Foggy Nelson de cabelo cortado.

domingo, 19 de abril de 2015

Demolidor: fim dos dias

Uma das melhores histórias do herói da Cozinha do Inferno.
   Aproveitando essa onda de Demolidor nas redes sociais por causa da sua série na Netflix (que estou assistindo, amando e prometo postar um texto sobre ela amanhã, pois preciso terminar de ver os últimos episódios), eu decidi fazer um pequeno comentário sobre a brilhante saga Demolidor: fim dos dias (Daredevil: end of days, no original), cujo segundo e último volume acabei de adquirir nas bancas.
   Quero começar falando exatamente desse aspecto. A obra original foi lançada em um volume único nos Estados Unidos, mas a Panini Comics pensando apenas no lucro teve algum motivo para achar que seria melhor quebrar a saga em dois volumes.
   Para se montar esse enredo fascinante, foi necessário reunir um baita time: o roteiro é de Brian Michael Bendis (Ultimate Homem-Aranha) e David Mack (Kabuki), e os desenhos de Klaus Janson (Batman: o Cavaleiro das Trevas), Alex Maleev (Novos Vingadores: Illuminati) e o David Mack novamente.
   A história é recomendada apenas para fãs do Demolidor de longa data, pois está repleta de personagens e detalhes que só quem já leu um bom número de aventuras do herói conseguirá compreender perfeitamente.
   É impossível ler esses dois volumes e não se lembrar de Batman: O que Aconteceu ao Cavaleiro das Trevas?, de Neil Gaiman, e Superman: O que aconteceu ao Homem de Aço?, de Alan Moore, pois essa HQ veio para contar como seria o fim do Homem sem Medo num futuro distante ou não. A prova disso é um jornal do Clarim Diário escrito "CAP DEAD" (Capitão América morto) que aparece ao fundo de uma cena.
Com essa proposta, a narrativa gira em torno de uma palavra: "MAPONE". Essa foi a última palavra dita pelo Matt Murdock antes de que o Mercenário o matasse. Ben Urich começa então a investigar sobre o significado dessa palavra.
   Utilizar-se de Ben Urich como canal para que o público veja o Demolidor é sempre algo fascinante. O leitor acaba por ir se envolvendo nas descobertas do jornalista que passa a procurar por cada pessoa que foi próxima do Demolidor e/ou do seu alter ego. É aqui que se faz importante conhecer bem o personagem, pois Urich se encontra com figuras conhecidas por leitores antigos. Ben Urich visita os antigos amores de Murdock: Milla Gillian, Viúva Negra, Mary Tifoide, Eco e Elektra Natchios; encontra com outros personagens do universo Marvel: Nick Fury, Peter Parker e Frank Castle; e até alguns vilões do Demolidor: Gladiador, Coruja, Guerrilheiro, Bullet, Homem Púrpura e a Igreja do Tentáculo. Não citei o Foggy Nelson porque nesse futuro ele teria desfeito a parceria com o Murdock, um prelúdio do fim do herói.
   A narrativa se inicia com o Demolidor sendo assassinado pelo Mercenário no meio da rua e as pessoas da cozinha do Inferno apenas assistem. O autor faz uma reflexão sobre o fim dos heróis e como as pessoas não se importam. Um homem veste um colante e enfrenta bandidos para salvar pessoas e quando ele morre, elas estão ocupadas de mais para se importar.
   Outra reflexão interessante é sobre o que se passou pouco antes da morte do Demolidor, quando ele  mata o Rei do Crime, finalmente ultrapassando sua barreira de moralidade. O que sempre separou o Demolidor de Wilson Fisk tinha sido isso, Matt sempre quis matá-lo, mas sempre se controlou, por fim ele não se segurou. Algo semelhante à relação Batman-Coringa que foi muito bem explorada em Batman: o Cavaleiro das Trevas (Frank Miller) e no jogo Batman: Arkhan City, que comentarei num futuro post.
   Podemos dizer que o Demolidor chegou ao fim quando matou Fisk, e isso é literalmente demonstrado pelo Mercenário. Um dilema interessante das histórias em quadrinhos: o herói deve manter sua conduta ou encontrar seu fim.
   Somente no final do segundo volume o leitor compreende o significado da última palavra dita pelo Demolidor. Há quem não tenha gostado, porque a história acaba criando muita expectativa em relação ao real significado da palavra, mas creio que foi um bom desfecho, digno do fim de um herói (Mas uma vez comparo com Batman: o Cavaleiro das Trevas). Só não entendi porque isso faria com que o Mercenário se matasse, mas ninguém pode compreender a mente de um dos maiores insanos na Casa das Ideias.
   Os desenhos são fantásticos, mesmo aqueles mais distorcidos de quem pessoalmente não sou fã, mas tenho que admitir que ficou um troço bem feito. Adoro sobretudo os pequenos easter eggs espalhados pelas páginas, como o Timmy usando uma camiseta do Homem-Aranha enquanto conversa com o Peter Parker.
   Outra coisa fenomenal são os anexos, duas pequenas histórias (uma em cada volume) tratando de duas paixões de Matt Murdock (mais duas! É, eu sei, ele é um galinha) que não apareceram na história, Stana Morgan e Karen Page. Na primeira, temos um relato de Stana contando como conheceu Matthew, suas impressões e seus sentimentos pelo herói. A segunda é uma dessas histórias de "E se tal coisa tivesse acontecido?" e conta o que teria acontecido se Karen Page não tivesse morrido em Demolidor: Diabo da Guarda (Kevin Smith), mais uma vez eles trabalham com o Demolidor assassinando Wilson Fisk e encontrando seu fim depois disso (ele é julgado e preso). Inclusive, achei de super bom gosto terem anexado essa história aí, pois ela tem a mesma mentalidade dessa.
   Esses volumes foram feitos especialmente para os fãs do Demolidor e é leitura obrigatória para os mesmos.

Demolidor: fim dos dias (volume 1) tem 124 páginas e reúne as edições Daredevil: End of Days 1-4 e uma história retirada de Daredevil 1.5Demolidor: fim dos dias (volume 2) também tem 124 páginas e reúne as edições Daredevil: End of Days 5-8 e What If Karen Had Lived. Cada volume custa R$18,90 e estão encadernadas com papel cartão.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Uma imensidão azul

Sempre considerei a cor azul como a cor da melancolia.
   Sou uma pessoa muito visual. Gosto de ter imagens formadas em minha cabeça de tudo, até mesmo do abstrato. Uma das manifestações disso é o fato de eu ter uma determinada cor ligada com cada sabor, cheiro, som ou sentimento que conheço. A voz do meu confessor tem uma cor roxa austera; o cheiro do meu irmão é um verde amarelado nauseante; os pesadelos que tenho toda noite são de um branco cegante; a saudade da minha avó é de um vermelho amarronzado; o gosto de pizza é um laranjado amigável; e a tristeza e a melancolia são azuis como o céu e o mar.
   Parece bobeira, mas isso tem muita importância para mim. Gosto de até mesmo de usar roupas que combinam com meu espírito. Nos meus melhores dias, estarei usando a seriedade do preto, que faz o chão parecer mais firme abaixo de mim.
Nos últimos dias, quando eu acordava de manhã, não só o céu parecia estar azul, mas o chão, as árvores, as pessoas, as casas, e até mesmo eu, por dentro e por fora.
   Eu não conseguia bem entender o motivo de tudo aquilo. Uma fadiga enorme tomava conta de mim, eu sentia o mundo pesando nas minhas costas e uma vontade de chorar, mas meus olhos estavam totalmente secos. Isso tudo me levou a um desânimo total. Eu já não conseguia ler, estudar, ou qualquer outra coisa. Tudo era desinteressante... e azul.
   Decidi que era hora de repensar minha vida, e resolvi me afastar para ver todo o panorama. Viajei para a cidade onde tomei as maiores decisões da minha vida e estive com as pessoas que participaram das minhas escolhas. Isso me refigurou e eu voltei com ânimo para continuar. Ali estava eu, no último ano de faculdade, com tantas responsabilidades disposto a encarar cursos noturnos, projetos de mestrado e empregos. Eu sentia a mesma energia da primeira vez que voltei de Petrópolis. O que aquela cidade me faz eu não sei, mas ela é a minha concepção visual das "campinas verdejantes" do Salmo 23.
   Hoje me sinto melhor, mas o vento é mais forte próximo do pico da montanha, não estou cem por cento recuperado, ainda tenho que encontrar a causa dessa melancolia. Só consegui repor as energias para continuar a caminhada. Seja o que for que está me devorando por dentro, espero dar um fim.
   Meus caros leitores, esse texto não é só um desabafo, é a minha explicação pela falta de dedicação a esse blog que prometi alimentar. Voltar a escrever nele é uma prova de que estou caminhando para melhorar e a voltar a enxergar o mundo com outras cores. Conto com a compreensão e o apoio de vocês!

Quae fuit durum pati meminisse dulce est!